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A REPÚBLICA DE WEIMAR: SUA FRÁGIL DEMOCRACIA E TENDÊNCIAS AUTORITÁRIAS

Ao fim da 1ª Guerra Mundial, a Alemanha, derrotada, deixava de ser um império e se tornou uma república democrática: a República de Weimar. Embora existisse antes tal demanda, a democracia de fato veio como consequência de uma derrota militar. Isso fazia com que, desde o início, o novo regime tivesse sua legitimidade posta em questão.

À direita ou à esquerda, havia grupos políticos que tentavam derrubar o regime recém-instaurado. Em 1918, inspirada na Revolução Russa do ano anterior, uma tentativa de revolução socialista foi brutalmente reprimida. Por sua vez, fortaleceu setores antidemocráticos à direita. Sobretudo nas classes médias e altas, muitas pessoas estavam dispostas a abraçar soluções autoritárias, desde que anticomunistas.

Em clima político semelhante, movimentos e partidos fascistas também ganhavam força em outros países, chegando ao poder pela primeira vez na Itália, em 1922. Em 1919, foi fundado o que viria a ser o partido nazista. No ano seguinte, divulgou seu programa de 25 pontos nos quais já enunciava diversos dos princípios que aplicaria em seu regime genocida.

A recuperação econômica nos anos seguintes permitiu alguma estabilidade. A democracia propiciou a conquista de direitos e uma vibrante produção cultural. Porém, na crise econômica de 1929, o desemprego disparou e reavivou a insatisfação contra a República de Weimar. Para muitos, a sensação de crise era tão profunda que somente uma saída extrema e nova poderia solucioná-la.

No início da década de 1930, a crise política e social e o crescimento de alternativas à esquerda – às quais os nazistas se colocavam como os únicos capazes de reprimir – serviu de oportunidade para setores conservadores do próprio governo tornarem a república cada vez mais autoritária e administrada por decretos presidenciais. Quando, em 1933, o partido nazista ascendeu ao poder, a Alemanha era, portanto, uma democracia recente e fragilizada.

Selo comemorativo do 12° aniversário do Putsch de Munique. Alemanha, 1935

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O Putsch de Munique ou Putsch da cervejaria foi uma tentativa fracassada de golpe do partido nazista, em 8 e 9 de novembro de 1923, inspirada na tomada de poder por Mussolini na Itália no ano anterior.

O golpe fracassou e Hitler foi preso. Porém, o judiciário alemão, de modo geral, aplicava punições menos severas à violência da direita política, pois via “motivações patrióticas”. Hitler foi condenado a cinco anos de prisão e cumpriu apenas 9 meses. Ele ainda aproveitou o julgamento para divulgar ideias e aparecer nos jornais.

Assim, os grupos paramilitares do partido nazista ganharam força para conturbar a vida política alemã. Ao mesmo tempo, decidiram que a destruição da democracia seria feita por dentro do próprio sistema. Foi a partir do putsch que o até então pouco conhecido Adolf Hitler se tornaria a principal liderança da extrema-direita nacionalista alemã, dando início a um culto à sua personalidade.

Nos anos seguintes, o putsch seria cultuado como marco fundacional e ato heroico, como neste selo comemorativo. Eles eram uma prática usual e, dada a importância dos serviços postais, alcançavam amplos setores da população, até mesmo fora da Alemanha. O culto ao putsch demonstra que, desde a fundação até sua derrocada, os nazistas nunca esconderam o desprezo pela democracia.

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Livro Mein Kampf. Alemanha, 1934.

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Mein Kampf (“Minha Luta”) é o livro de dois volumes de autoria de Adolf Hitler. O primeiro foi ditado enquanto esteve preso após o putsch de Munique e editado em 1925; o segundo foi escrito no ano seguinte.

Hitler mistura autobiografia e tratado político para argumentar pelo antissemitismo, antimarxismo, antiliberalismo, autoritarismo e superioridade alemã, defendendo uma política externa agressiva que assegurasse o “Espaço vital”. Para ele, um enorme potencial dos alemães estaria sendo reprimido por poderosos interesses judaicos, pelas potências vencedoras da 1ª Guerra Mundial e ameaçado política, econômica e moralmente.

A primeira edição esgotou rapidamente, mas as vendas caíram no fim da década de 1920. Foi no início dos anos 1930, acompanhando o sucesso eleitoral do partido nazista – e mais ainda durante o regime -, que o livro se tornou um sucesso de vendas. É desse momento que vem esta edição, da editora Franz-Eher-Verlag. Entre 1925 e 1945, mais de 12 milhões de cópias haviam sido impressas.

Mein Kampf não incluía uma planificação de como realizar os ideais expostos, mas evidencia que, quase dez anos antes de ascender ao poder, os princípios que levariam ao genocídio já estavam expostos.

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Página do livro “Deutschland Erwacht” [A Alemanha desperta]. Alemanha, 1933.

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A imagem é uma propaganda da Sturmabteilung (SA), milícia paramilitar do partido nazista, cujos membros eram conhecidos como camisas-pardas. O cartaz glorifica a violência política. Abaixo, lê-se “O terror da esquerda só pode ser combatido com um terror ainda mais severo”.

Durante a República de Weimar (1918-1933), a SA procurava conturbar a jovem democracia alemã. Interrompiam violentamente eventos políticos adversários, atacavam greves e manifestações, e intimidavam sindicalistas, políticos opositores e judeus. Provocavam a desordem para a qual o próprio partido nazista se apresentava como solução.

Os nazistas não negavam a importância da violência política para sua ascensão ao poder. A imagem deste livro ilustrado, publicado pelo partido nazista ainda em 1933, celebra sua própria trajetória. Após a ascensão do partido ao poder em 1933, a SA, querendo aprofundar a “revolução” e prosseguindo com os distúrbios, se tornou uma ameaça a Hitler, que mandou matar seus líderes em 1934.

Este exemplar foi doado pelos afilhados de casamento de Helga Ilse Berl (1929-2014), judia alemã que conseguiu escapar e chegou ao Brasil em 1939.